A festa caminha para se consolidar como principal atrativo turístico da capital mineira; evento deste ano tem público estimado em 6 milhões de pessoas

Em BH, a festa já está no esquenta desde o iniciozinho do ano; o folião pode acompanhar o calendário dos ensaios dos blocos pelo site portalbelohorizonte.com.br/evendos/tag/carnaval-2025 (foto: Divulgação)

Tem quem espere o ano inteiro pelo carnaval. E tem quem prefira não esperar, fazendo da festa um compromisso diário ao longo de todo ano. Caso de Leandro César, membro da diretoria do bloco Então, Brilha, que debuta seus 15 anos de avenida em 2025. “Na verdade, a gente vem se preparando para o próximo cortejo há muito tempo. Mais precisamente, desde que acabou o desfile de 2024. Daí, fomos organizar a casa para pensar nossas ações ao longo do ano – todas elas, de alguma forma, relacionadas com o Carnaval 2025”, diz o produtor cultural.

Ele antecipa que, na próxima folia, o bloco que abre a festa belo-horizontina – levando multidões para as ruas em plena madrugada de sábado, com início do cortejo às 5h – vem com novidades. “Fizemos um processo seletivo no ano passado, abrindo muitas vagas para a bateria, que passou por uma renovação, de maneira que chegaremos, neste carnaval, com uma bateria maior e mais diversa, com aproximadamente 240 pessoas”, ressalta, lembrando que, neste ano, o bloco desfila com o tema “Raízes do Futuro.”

E não é só a bateria do Então, Brilha que vai crescer neste ano: a própria folia, que já se tornou o principal atrativo turístico da cidade, também deve se expandir. É o que aponta a presidente da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), Bárbara Menucci, que também é do tipo que leva o carnaval à sério. Para ela, aliás, a folia belo-horizontina representa muito mais do que uma festa: “É uma manifestação cultural que carrega a identidade e a criatividade da cidade.”

Uma manifestação que engloba não apenas os cinco dias de festejo, mas também os ensaios que ocupam a cidade antes da data propriamente dita. Tanto que, para a Belotur, o período oficial do carnaval deste ano se estende entre 15 de fevereiro e 9 de março. “Para 2025, trabalhamos com números que refletem o protagonismo e a força da folia belo-horizontina. Até o momento, 568 blocos de rua já se cadastraram para desfilar, com a previsão de 624 cortejos espalhados pelas nove regionais da capital”, informa. Em relação a 2024, o número significa um crescimento de cerca de 7% nos desfiles previstos, além de 176 blocos novos que se inscreveram.

E a tendência, naturalmente, é que o público também se multiplique: as projeções realizadas pela Belotur, ligada à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), sugerem que BH deve receber cerca de 6 milhões de foliões, um aumento de 10% em relação a 2024. O número é equivalente a três vezes a população da cidade. De acordo com o prefeito interino Álvaro Damião, a festa deve movimentar mais de R$ 1 bilhão na cidade.

Por sua vez, o Governo de Minas também planeja ampliar suas intervenções na cidade. O secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, detalha que, em 2025, a pasta vai atuar, por exemplo, na sonorização de três avenidas da cidade: Andradas, Afonso Pena e Brasil – alguns dos principais corredores de blocos da cidade. A ideia é melhorar a experiência dos foliões, possibilitando que pessoas que estejam mais afastadas dos trio-elétricos também consigam ouvir as músicas entoadas pelos blocos.

De acordo com a avaliação de Bárbara Menucci é fato que, com o expressivo crescimento desde a sua retomada, o Carnaval de Belo Horizonte vem se consolidando. “Em 2024, a festa atraiu 262 mil turistas e gerou uma movimentação financeira de R$ 943,2 milhões, impulsionando a economia criativa, o comércio, os serviços e o turismo”, afirma.

O caminho para o sucesso, segundo a gestora, está na manutenção e aprimoramento do que tem sido feito ano a ano na cidade. Os resultados, afinal, falam por si. Inclusive quando o tema é a atração de turistas, com a capital ampliando sua visibilidade nacional e recebendo um público cada vez mais diversificado. “Dos 262 mil turistas que participaram da festa, 83,3% do público foram formados por moradores e 16,7% por visitantes. Entre os visitantes, 59,8% vieram do interior de Minas Gerais, seguidos por estados como São Paulo, Distrito Federal e Paraná”, detalha ela, para quem tais números são resultado de um trabalho estratégico de promoção ao longo de todo o ano, além de reforçarem o equilíbrio entre valorização local e atração de turistas e demonstrarem a capacidade do Carnaval de BH de dialogar com diferentes públicos e regiões.

Uma pesquisa realizada pelo Observatório do Turismo de Belo Horizonte, citada por Bárbara, também evidencia o impacto positivo do evento. Segundo o levantamento, 57% dos entrevistados avaliaram melhorias significativas na organização, infraestrutura e segurança, e 92,5% manifestaram intenção de retornar.

É na conversão dos foliões em turistas que Leônidas Oliveira, secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, aposta. Em relação à expectativa de público, ele diz preferir não trabalhar com estimativas em termos de volume. Claro, há o desejo de manter e ampliar o público presente na folia em BH e em outras cidades mineiras. “Mas, além disso, precisamos trabalhar a partir da perspectiva do turismo para trazer essas pessoas e para que elas gastem mais na cidade. A rede hoteleira da capital, por exemplo, teve um aumento de índices de ocupação no período, mas ainda dá para melhorar”, sugere, complementando que o Governo do Estado trabalha também para o fortalecimento do carnaval no interior.

Para alcançar esses objetivos, Leônidas menciona a realização de uma campanha nacional com foco em atrair turistas de outros estados para Minas Gerais.

“Os turistas do próprio estado gastam em média R$ 200 por dia, enquanto os que vêm de outros estados gastam R$ 1 mil por dia. Dessa forma, então, trabalhamos para aumentar o tíquete médio, além de buscar aumentar essa permanência na cidade”, resume, acrescentando que, no ano passado, Minas foi o terceiro estado que mais atraiu estrangeiros no carnaval, segundo dados da Embratur, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro.

Embora cresça e apareça, o carnaval de BH ainda está, em muitos aspectos, em fase de amadurecimento. A avaliação é do produtor cultural Leandro César, membro da diretoria do bloco Então, Brilha. “A gente precisa, em uma primeira instância, amadurecer o diálogo entre os blocos, porque só a partir da organização coletiva é que vamos conseguir pautar, principalmente, o poder público e, assim, ter nossas demandas acolhidas”, reflete.

Para ele, o evento é encarado como uma grande brincadeira, o que não seria problema, se essa perspectiva não apagasse o trabalho sério realizado por uma série de trabalhadores da cultura. “Falta ter essa dimensão de quanto trabalho – artesanal e coletivo – está por trás do fazer carnavalesco. É algo que precisamos amadurecer dentro de nós e, depois, em diálogo entre nós, os realizadores do carnaval”, argumenta.

César acredita que, a partir dessa mudança de mentalidade, questões ainda pouco discutidas podem ser amplificadas. “Porque o poder público precisa entender que não é só com gradeamento, segurança pública, limpeza urbana, organização de trânsito e criação de vias sonorizadas que se faz o carnaval. Além destas questões, que são, sim, essenciais, é preciso fortalecer os agentes que fazem tudo acontecer, que são os blocos de rua, os blocos caricatos, as escolas de samba, os coletivos e outras organizações”, diz.

Conectada a este sentido, a Prefeitura de Belo Horizonte sancionou em janeiro a lei de valorização dos Blocos Caricatos da capital. O intuito do projeto é reconhecer o trabalho desses atores do carnaval como uma manifestação de natureza imaterial e de origem belo-horizontina, “garantindo o apoio institucional, logístico, de infraestrutura e financeiro do poder público municipal”. “Foram reconhecidas também as escolas de samba, os blocos de rua, as rodas de samba e os espaços do samba. Essa lei será o importante instrumento para promover a salvaguarda dos blocos caricatos buscando a sua proteção, valorização e fomento, bem como apresentação e divulgação de suas memórias e contribuição”, diz a secretária Eliane Parreiras, Secretária de Cultura de Belo Horizonte, em comunicado.

Leandro César indica que são bem-vindos os investimentos feitos pela Belotur e da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte (SMC), que, nos editais da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), contemplou festas populares, inclusive o carnaval e o São João, e outras de caráter regional. Tampouco, ele despreza o investimento realizado pelo Governo de Minas e Cemig, que distribuiu recursos para projetos com temática carnavalesca inscritos na Lei Estadual de Incentivo à Cultura (Leic) e autorizados para captação e recebimento dos aportes em 2025. “Mas, olhando para um cenário em que temos por volta de 500 blocos oficiais cadastrados – e ainda tem aqueles não oficiais – entendemos que esse investimento é insuficiente”, sugere. “Eu tenho a impressão de que a alavancada na economia que o carnaval produz hoje faz diferença na arrecadação da cidade se a gente olhar em relação há 15 anos. E eu só gostaria que esse impacto fosse revertido para melhor estruturar os agentes, blocos, artistas que estão colocando sua vida, seu tempo, sua criatividade na realização de algo que serve ao bem comum”, diz, assinalando, por exemplo, que a maioria dos blocos têm, atualmente, dificuldade para encontrar locais para realização de ensaios. “Seria muito bom se tivéssemos sedes para fazer nossas atividades o ano inteiro, e essa estrutura só seria possível com apoio do poder público”, indica.

E, para além da óbvia motivação econômica em seu sentido mais tradicional, há outros aspectos do carnaval que justificam esse investimento: “Eu queria falar sobre a economia da felicidade, a economia da alegria, porque quando a gente tem uma cidade mais alegre, uma cidade mais feliz, tem ganhos que a dimensão econômica não é capaz de mensurar. Tem ganhos sociais reais em termos de qualidade de vida.”

Ocupação recorde

Expectativa da Associação Mineira da Indústria de Hotéis e Lazer (AMIHLA) é de uma ocupação hoteleira recorde durante o período carnavalesco deste ano. A entidade projeta um crescimento de 20% na demanda em relação ao ano passado. “Acreditamos que a hotelaria de lazer de todo o estado deve atingir 85% de ocupação, com destaque para BH”, informou a entidade.

Carnavalizar e descarbonizar

Neste ano, uma das principais inovações propostas pela Belotur conecta a folia às urgentes questões climáticas, cujos impactos em BH – sejam imanentes ou já perceptíveis – foram debatidos na edição 277 de Encontro.

“Nossa grande novidade é o Carnaval Baixo Carbono: vamos carnavalizar e descarbonizar! Isso significa mitigar emissões, gestão de resíduos e muito mais cuidado com o planeta e as pessoas. Junto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), vamos fazer um inventário das emissões do evento e plantio de miniflorestas urbanas, envolvendo foliões, blocos e toda a rede da festa. Além disso, estamos apoiando o projeto Recicla Belô que vai garantir que os resíduos recicláveis tenham a destinação correta, com a força dos catadores cooperados e autônomos”, ressalta Bárbara Menucci, presidente da Belotur.

Ainda em relação a medidas atentas às mudanças do clima, ela destaca outras ações: “Queremos cuidar de quem faz a festa! Teremos quatro pontos de hidratação espalhados pela cidade para refrescar os foliões nas ondas de calor.”

Em outra frente, medidas antiassédio também entram no radar. “Para garantir segurança e acolhimento, pontos fixos atenderão mulheres e crianças em caso de assédio, e o Protocolo Quebre o Silêncio vem com força total, integrando blocos, bares e restaurantes nessa missão”, diz.

Já a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) pretende levar para outros espaços as apresentações da Orquestra Sinfônica e do Coral Lírico de Minas Gerais, que nos últimos dois anos realizaram um concerto – ou melhor, um baile de Carnaval – nos jardins do Palácio da Liberdade. “O nosso Carnaval é muito diverso, em todos os sentidos, inclusive em termos de música. Por dois anos, realizamos essa abertura da festa no Palácio da Liberdade. Agora, neste ano, há a expectativa de levar a apresentação também para as avenidas sonorizadas”, promete o secretário Leônidas Oliveira.

Folia terá R$ 6,4 mi de investimentos via iniciativa privada

Em 2025, o Carnaval de Belo Horizonte retoma a parceria com a cervejaria Ambev, que, após cinco anos, volta a ser a principal patrocinadora da folia na cidade. O investimento do grupo será de R$ 5,9 milhões, sendo a marca Brahma destacada como patrocinadora oficial, sob a chancela “Apresenta”. Além disso, o grupo ainda fará ações de ativação de outras três marcas – Skol Beats, Zé Delivery e Guaraná Antártica – durante as ações promocionais. Já a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) aparece, pelo segundo ano consecutivo, como apoiadora do evento, destinando R$ 500 mil à festividade.

A Belotur ainda deve lançar um novo edital para que cotas disponíveis sejam licitadas. Caso do “Patrocínio Master”, que teve disponibilizadas três cotas, de valor mínimo de R$ 2 milhões cada, mas, até o fechamento desta edição, não teve interessados. Já a chancela “Apoio”, que teve uma cota assumida pela CDL BH, ainda tinha três em aberto com valor de R$ 500 mil cada.

Além dos patrocínios angariados via licitação pela Belotur, o governo do Estado, por meio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), anunciou o investimento de cerca de R$ 11 milhões para patrocinar o Carnaval 2025 em toda Minas Gerais, incluindo BH.

A Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte também destinou R$ 1,762 milhão para auxílio financeiro aos blocos de rua, que puderam se inscrever por meio de edital, em novembro passado. Os blocos receberão valores de acordo com três categorias. Na categoria A, até 50 blocos vão receber R$ R$ 22,8 mil cada; na categoria B, até 35 blocos vão receber R$ 13,2 mil cada, e na categoria C, até 20 blocos recebem R$ 8 mil cada.

Fonte: Revista Encontro

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