Estarão presentes Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e Flávio Venturini que cantarão ao lado de Seu Jorge, Mônica Salmaso, Céu, Joyce Moreno e Fernanda Takai
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Para Seu Jorge, foi como conhecer o significado da palavra “beleza.” Já na primeira escuta, Mônica Salmaso percebeu que aquilo “era diferente de tudo” que já tinha ouvido até ali. Essas foram as sensações provocadas pelo Clube da Esquina nos dois artistas quando eles escutaram pela primeira vez as canções do grupo surgido em BH nos anos 60.
Tanto Seu Jorge quanto Mônica se apresentam, nesta terça (25) – sessão extra –, quarta (26) e quinta-feira (27), o concerto “As Cores do Clube da Esquina”, que celebra a trajetória do grupo que marcou história na música brasileira, quiçá mundial. Céu, Joyce Moreno e Fernanda Takai completam o quadro de intérpretes que cantarão ao lado de Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e Flávio Venturini, nomes fundantes do movimento.
A orquestração, inédita, foi feita por Wagner Tiso, e será executada por músicos da Orquestra Filarmônica Ramacrisna e por instrumentistas da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com regência de Eliseu Barros. Estarão presentes ainda, fora do palco, Márcio Borges, Murilo Antunes e Tavinho Moura. Milton Nascimento, o convidado de honra, não poderá comparecer por uma questão de agenda.
“Ele viria, mas está com filho, que é empresário do Samuel Rosa, que, por sua vez, vai lançar um disco solo no dia seguinte ao show. Mas o Bituca deve assistir ao show quando o projeto for para o Rio de Janeiro”, explica o idealizador do projeto, Robertinho Brant, que também assina os arranjos e a direção musical e artística do concerto.
Seu Jorge, que vai cantar, dentre outras, “Nada Será Como Antes” e “Clube da Esquina N° 1”, conta que era impossível “não perceber o tamanho da genialidade, da música e da voz de Milton Nascimento”. “Eu fui educado ouvindo não só toda a sua obra, mas também a de seus parceiros. Noto muita beleza, tando nas obras dele, como nas de Toninho, de Lô, de Beto, de Fernando Brant, de Tavinho… São músicos que têm contribuído muito com a resistência e com a manutenção da beleza”, diz o artista, que já cantou ao lado de Milton Nascimento em algumas ocasiões.
Na mais recente dela, em março do ano passado, dividiu palco com Bituca na apresentação do Coldplay, no Rio de Janeiro. “Foi um momento muito bonito. No dia anterior a esse show, estávamos todos na casa do Bituca fazendo uma jam session toda dedicada a ele. Toda a banda do Coldplay estava lá, o Chris Martin tocou ‘Maria, Maria’, no piano, e o Hamilton de Holanda enfeitou tudo com o som do bandolim. Foi muito incrível”, recorda, com visível entusiasmo na voz em entrevista por telefone.
O artista, que “no finalzinho da década de 90, ia muito para Minas Gerais”, onde passava boa parte do tempo na casa do amigo Robertinho Brant, ainda gravou “Crença”, música de Milton Nascimento que apenas quem é “fã assíduo conhece.” “Esta é uma das canções que gravei recentemente, em um disco que ainda não lancei, o ‘The Other Side’. Ela é tão viva e tão presente e tinha muito a ver com o momento em que estava atravessando, o de buscar novos voos. O Pupilo, baterista do Nação Zumbi e um grande companheiro meu, foi quem me apresentou a ela, em 2013. Fiquei apaixonado e resolvi fazer uma orquestração dela”, afirma o artista de Belford Roxo.
Para Mônica Salmaso, por sua vez, o “Clube da Esquina veio com uma assinatura tão própria que criou mesmo uma nova estrada na MPB, onde elementos profundos da tradição e elementos modernos coexistiram.” “É uma música criativa e, ao mesmo tempo, capaz de tocar fundo por ter ligação com raízes do Brasil. Tem um papel muito mais livre e protagonista da música instrumental dentro da canção. Abriu novos caminhos harmônicos novos que abriram horizontes na MPB. Foi um enorme acontecimento”, analisa.
Ela gravou um disco, o “Milton” (2022), em que interpreta clássicos de Bituca em uma homenagem aos seus 80 anos. Na avaliação de Mônica, o repertório de Milton “foi e é sempre um potente remédio.”
“O trabalho ‘Milton’, meu e do André Mehmari, com participação especial do Teco Cardoso, nasceu durante a fase mais difícil da pandemia. Precisávamos conseguir fazer música juntos de forma presencial e precisávamos nos reconectar com o Brasil que estava vivendo horrores diários”, relembra. Em seu repertório em “As Cores do Clube da Esquina”, estão “Cais”, “Fazenda” e “Nascente.” “Esta última junto com o Flávio Venturini. Só felicidade!”, celebra.
Projeto terá lançamento de discos e documentário
A escolha dos nomes de Seu Jorge e Mônica Salmaso para o projeto, aliás, teve a ver com a familiaridade destes com o repertório do Clube da Esquina, assim como os de Céu, Joyce Moreno e Fernanda Takai, segundo o idealizador do projeto, Robertinho Brant.
“Seu Jorge é meu amigo, já gravou músicas e sei que ama o Clube da Esquina. A Joyce é puro Clube da Esquina, já foi casada com o Nelsinho [Angelo]. A Mônica tem muito a ver com o Clube, gravou um disco dedicado ao Milton e é uma espécie de nova Nana Caymmi. A Fernanda, apesar de o Pato Fu ser bem diferente, já fez muita coisa de identificação com o movimento. E eu sou fã da Céu, que também já cantou músicas do Cube”, conta Brant.
O concerto “As Cores do Clube da Esquina” faz parte de um grande projeto em torno do grupo, que compreende também os lançamentos de um disco duplo e de um documentário.
O “embrião do projeto” foi o disco “Vendedor de Sonhos”, lançado em 2019 por Robertinho Brant, em homenagem ao tio Fernando Brant. “Se eu não tivesse feito aquele disco, esta ideia não existiria. Depois do disco, eles [os integrantes do Clube da Esquina] passaram a confiar muito mais em mim artisticamente”, afiança.
Há cerca dois anos, Robertinho Brant convidou os intérpretes que estarão no show para cantar ao lado de Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e Flávio Venturini. Daí, veio o disco duplo, o “Trem de Doido – 1 e 2”, com 44 músicas, sendo que o primeiro será lançado em novembro deste ano, e, o segundo, em abril de 2025. “O novo álbum segue o mesmo conceito do ‘Vendedor de Sonhos’, em que escolhi as músicas para os cantores nunca interpretadas por eles. E, desta vez, acabou virando um álbum duplo”, aponta.
Já o documentário deve ficar pronto em 2026. “O filme é contado em primeira pessoa e vai abordar vários temas que cercaram co Clube da Esquina, como a perda da ingenuidade. Ele terá como base alguns álbuns, como o “Travessia”, lançado justamente no ano em que nasci. Decidimos não incluir depoimentos de pessoas sobre o Clube, optando por contar a história por meio da música, com foco nas composições e na sonoridade da época”, adianta Brant.
Completa o projeto o registro audiovisual que será feito ao longo das apresentações de “As Cores do Clube da Esquina”, que terá direção dos cineastas Pedro de Filippis e Luiz Pretti, com data de lançamento ainda não prevista.
SERVIÇO
As Cores do Clube da Esquina
Quando. Terça (25) – sessão extra –, quarta (26) e quinta (27), às 21h
Onde. Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. Há ingressos disponíveis apenas na plateia 2, por R$ 145 (meia-entrada) e R$ 290 (inteira), sendo a maioria destinada para pessoas com mobilidade reduzida.
Ingressos no Eventim