Manutenção da taxa básica de juros estimula a demanda por investimentos mais conservadores

Crédito: Reprodução Adobe Stock

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu na quarta-feira (19) manter a taxa básica de juros da economia brasileira em 10,5% ao ano. A decisão interrompe uma sequência de sete cortes consecutivos da Selic realizados pelo órgão desde agosto do ano passado e impactou setores como o de investimentos. A mudança favorece a renda fixa, modalidade mais indicada neste momento pela maioria dos especialistas ouvidos pela reportagem, e a variação da carteira continua primordial.

O especialista Charo Alves explica que juros com dois dígitos fazem os investidores optar por investimentos mais conservadores como títulos de renda fixa, Nota do Tesouro Nacional Série B (NTNBs) longa e IPCA+, porque o spread – que é a diferença entre o preço pago em um produto e o valor pelo qual ele é vendido depois – abriu bastante. “Isso faz com que você tenha um juros real muito atrativo para o investidor mais conservador”, argumenta.

Entretanto, ele pondera que as ações e os fundos imobiliários, os ativos de renda variável de um modo geral, seguem “bastante descontados”, em um grau só visto em 2008 com a crise da economia nos Estado Unidos. “Então, temos esta dualidade, a renda fixa está muito boa para o investidor, porém os ativos de renda variável estão superdescontados, mas devem demorar um pouquinho a andar, porque a sensibilidade de juros em queda favorece ações e fundos imobiliários e aquece a economia diretamente. Já os juros elevados mantêm a economia mais estagnada, fazendo com que o investidor adote um posicionamento mais conservador”, completa.

Com relação ao dólar, o especialista da Valor Investimentos explica que a moeda norte-americana sobe nesse processo porque quando há sinônimo de desconfiança, o investidor corre para moeda forte e acaba alocando seus recursos em títulos de renda fixa do Tesouro dos Estados Unidos, que, segundo o especialista “é o título mais seguro do planeta”. Porém, ele ressalta que o processo é cíclico e os juros não devem permanecer muito tempo elevados. “Com a inflação no patamar atual, a gente percebe que há uma pressão para que os juros caiam”, ressalta.

Assim, o especialista acredita que a tendência macro é que os juros continuem caindo. “Mas para que isso aconteça rapidamente depende de dois fatores: o desempenho da economia global, como a queda de taxa de juros dos Estados Unidos, e a previsibilidade em relação ao arcabouço fiscal que o governo atual, pelo menos nessa última janela, nos três meses, não demonstrou tanta preocupação”, avalia.

O sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, analisa que a conjuntura fiscal como está espanta investimentos estrangeiros. “Com o governo gastando mais do que arrecada, uma arrecadação muito dificultosa e o embate entre os três poderes, o gringo acaba tirando dinheiro do Brasil. Então, a tendência é de dólar para cima e Ibovespa para baixo até que o governo faça o dever de casa”. Dessa forma, ele sugere a renda fixa como melhor opção para garantir rentabilidade na conta neste momento. “Não tem porque você tomar risco quando você tem CBDs entre outras opções, rendendo 1% ao mês ainda”, diz.

Já o especialista em investimentos, fundador da escola de investimentos AUVP, Raul Sena, afirma que o rendimento no Tesouro IPCA é o produto mais rentável no momento, com taxa de 6,28% mais o IPCA. Porém, avalia que a taxa como está “não é bom para ninguém”. “A taxa de juros neste patamar não permite que o empresário tome empréstimos, não permite que a gente consiga crescer a economia, não permite uma valorização da nossa bolsa. É menos pior do que baixar o juros na canetada e a gente ver a inflação disparar e virarmos uma Argentina, mas bom mesmo não é”, afirma.

Já o professor de Ciências Contábeis e diretor da universidade Estácio de Sá, da unidade Floresta, Alisson Batista, valoriza a importância da diversificação da carteira de investimentos. “Ter investimentos diferentes é importante nesses momentos de oscilação. Por isso que uma carteira deve ser bem montada, bem balanceada, envolvendo tanto renda fixa quanto investimentos futuros, um pouco de risco de fato para que você possa compensar esses ganhos futuros e assim consecutivamente”, analisa.

Fonte: Diário do Comércio

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