Vivenciam o impacto da falta de precipitação cerca de 300 cidades do Sul e Cerrado do Estado, Matas de Minas e Média Mogiana (São Paulo)
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As temperaturas elevadas e a falta de chuvas ao longo da safra 2024 de café poderão impactar de forma negativa na próxima safra do grão. Apesar de uma expectativa de chuvas mais regulares a partir de setembro, por agora, é grande a preocupação dos cafeicultores. Isso porque áreas produtivas enfrentam mais de 120 dias sem chuvas significativas o que aliado à temperaturas acima da média afetam negativamente o armazenamento de água no solo e impactam diretamente as lavouras.
O assunto foi discutido durante o 6º Fórum Café e Clima, realizado pela Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé). No evento, especialistas discutiram os impactos do El Niño que afetou diretamente a produção 2024 e as expectativas para a safra 2025.
Durante o fórum, houve consenso entre os especialistas participantes de que 2024 tem sido particularmente difícil para o setor cafeeiro. Conforme o engenheiro agrônomo e coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, Guilherme Vinícius Teixeira, a safra atual na área de atuação da cooperativa, enfrenta desafios devido à combinação de estresse térmico e hídrico.
A atuação da cooperativa compreende mais de 300 cidades do Sul e Cerrado de Minas Gerais, Média Mogiana (São Paulo) e Matas de Minas.
Teixeira explicou que as altas temperaturas e a amplitude térmica elevada comprometeram negativamente o armazenamento de água no solo, havendo impacto direto nas lavouras. Além disso, a quantidade de chuvas tem sido insuficiente, com aproximadamente 120 dias sem precipitações significativas desde março deste ano.
Assim, o estresse térmico está consumindo a energia produzida pelas plantas, provocando reflexos na produtividade, que cai. Outro agravante ocorre nas regiões com menor altitude, que têm enfrentado temperaturas mais altas.
“Estamos há praticamente 120 dias sem chuvas. É um momento de preocupação. As chuvas foram boas até março, mas, passamos abril, maio, junho e julho sem chuvas, praticamente. Houve ainda alta amplitude térmica, o que traz um grande estresse para a planta”.
Entre os impactos negativos, com o avanço da colheita, que já está em 75% concluída na área da Cooxupé, foi observado um rendimento médio menor. “Em 2024, foram necessários 513 litros para compor uma saca de 60 quilos. Assim, há um gasto elevado de litros para compor uma saca. Em anos favoráveis, como 2019 e 2020, eram necessários 451, 478 litros para compor o mesmo volume”, disse Teixeira.
Safra de café 2025 teve bom desenvolvimento vegetativo, mas abaixo do potencial
Teixeira destacou que, para a safra 2025 de café, houve um bom período para o desenvolvimento vegetativo dos cafezais, mas o desenvolvimento ficou abaixo do esperado em função das altas temperaturas.
“É preciso atenção para o baixo armazenamento de água no solo, para o déficit hídrico elevado e uma possível florada antecipada. As lavouras estão sentindo e estão depauperadas. Nós indicamos sempre acompanhar as lavouras, conhecer e realizar o manejo que elas estão pedindo”, reiterou.
Conforme Teixeira, algumas ações consideradas estratégicas podem ajudar o produtor a passar o período de estresse nas lavouras. Para ele, o produtor precisa sempre trabalhar com a umidade do solo utilizando, por exemplo, plantas de cobertura. Também é preciso de adubação e correção equilibradas de solo, utilização do sistemas de irrigação, manejo de podas e do controle de pragas e doenças.
“Fica o alerta de que se as condições climáticas se mantiverem desfavoráveis, isso poderá acarretar em perdas consideráveis na safra 2025”, continuou.
La Niña
O agrometeorologista e sócio-fundador da empresa Rural Clima, Marco Antônio dos Santos, explicou que o fenômeno La Niña deverá se manifestar neste ano entre o final de setembro e o início de outubro, com uma intensidade variando de fraca a moderada. A previsão é que haja chuvas entre o final do mês de setembro e a primeira quinzena de outubro, desencadeando uma possível florada com bom pegamento e uniformidade.
A expectativa é que o pico da La Ninã ocorra em janeiro de 2025 e possibilite um ano menos difícil para a cafeicultura, segundo o especialista. “O fenômeno possibilita essa condição, porém não significa que devemos ficar despreocupados. É preciso mudarmos a forma de ver o clima diante das mudanças climáticas que têm ocorrido”, apontou Santos.
Fonte: Diário do Comércio