Em uma entrevista exclusiva, o político falou sobre os planos e os desafios à frente do Legislativo da capital mineira

Crédito: Diário do Comércio / Isa Cunha

Em seu quarto mandato como vereador de Belo Horizonte, Juliano Lopes (Podemos) foi eleito presidente da Câmara Municipal para o biênio 2025-2026. Formado em Educação Física, em licenciatura plena e bacharel, é pós-graduado em Gestão Pública de Projetos Sociais, foi presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Mineira de Futebol (FMF) e também ex-árbitro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio, o parlamentar falou sobre os planos e os desafios à frente do Legislativo da capital mineira e assegurou que pretende manter uma relação de independência e harmonia com o Executivo. Lopes também disse como será seu relacionamento com os diferentes campos ideológicos que compõem a Câmara, a partir do tratamento com os vereadores e os partidos políticos e defendeu a harmonia não apenas na CMBH, mas também na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e no Congresso Nacional.

Entre as pautas prioritárias da cidade, na avaliação do presidente da Casa estão: a mobilidade urbana, as pessoas em situação de rua, a despoluição da lagoa da Pampulha e a revisão do Plano Diretor.

Quais seus principais feitos enquanto vereador?

Sou formado em educação física e nesses quatro mandatos consegui aprovar uma lei muito importante. Em Belo Horizonte, o professor de educação física não estava na prática no primeiro e no segundo ciclo da educação infantil. Isso significava que se a escola não tivesse no seu quadro docente um profissional de educação física, podia colocar um professor de qualquer outra disciplina no lugar. Não existia nada que regesse isso e a partir da nossa lei, a prefeitura fez um concurso público e agora em todas as escolas do primeiro e segundo ciclo de Belo Horizonte é obrigatória a presença do profissional.

E quais os principais desafios, à frente da presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH)?

Fui eleito por 23 dos 41 vereadores, mas quero fazer uma administração voltada para todos, independentemente de esquerda ou de direita. Se eles estão aqui e foram eleitos, têm suas pautas e sua importância. Eu vejo que Belo Horizonte tem grandes desafios, mas o principal é a mobilidade urbana. Ninguém aguenta mais o trânsito de Belo Horizonte. Tem problema no ônibus, mas o que faz o ônibus atrasar também é o trânsito. Eu moro no Barreiro e para chegar aqui às 9 horas, eu saio de casa no mínimo às 7h30. Temos que, juntamente com a prefeitura, trabalhar nesse quesito. Vamos criar a partir de fevereiro, a Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana, que em parceria com a prefeitura vai dar soluções para isso.

Como a Câmara poderia atuar nesta questão?

Trazendo o problema para dentro do Legislativo, nas comissões temáticas, discutindo, fazendo audiências públicas, chamando as pessoas do comércio, das empresas e dos aplicativos. A população de Belo Horizonte espera uma resposta da Câmara e da Prefeitura. A Câmara não tem o poder de executar, mas pode auxiliar.

Como você avalia os subsídios concedidos às empresas de transporte de ônibus?

As principais capitais do Brasil e as maiores cidades têm subsídios. Por isso, não sou contra o recurso, mas à sua má utilização. Foi aprovado que entre 2024 e 2025 a Prefeitura de Belo Horizonte vai repassar para as empresas mais de R$ 720 milhões e ainda haverá aumento de 2% na passagem. O que precisamos saber, na prática, é se quem está usando o ônibus está satisfeito com o serviço. Os ônibus atendem? São novos? Pontuais? Existe uma frota disponível nos principais horários? Não… então, mesmo com o subsídio, mesmo com o aumento, o transporte continua péssimo.

Seria o caso de se instaurar mais uma CPI?

A CPI da BHTrans, apesar de não ter resolvido o problema, caminhou para o Ministério Público e agora é preciso fazer o papel de investigação, que não é da Câmara. Além disso, em 2028 teremos um novo contrato para a prestação de serviço das empresas e o que a gente pretende é convidar os envolvidos e criar uma comissão de estudo para elaborar esse novo contrato, porque tem muita coisa lá de 2008 que não dá para permanecer. Vamos auxiliar nessa renovação, pois o contrato não pode ser o mesmo de 20 anos atrás; ele só atende aos empresários, não à população. A Câmara vai começar a discutir o tema já em 2025, porque, assim, serão três anos para desenharmos um contrato melhor.

Já foi possível alinhar algo com a prefeitura neste sentido?

Eu ainda não tive contato com eles, mas tenho certeza que, como é um problema sério da cidade, a prefeitura não vai querer deixar de participar dessa discussão. Mas, se a prefeitura não quiser dialogar, vamos dialogar com a prefeitura, criando ferramentas para que o Executivo ouça a Câmara Municipal. Porque os vereadores é que estão próximos da população e precisam ser ouvidos.

Como conduzir esse relacionamento entre Legislativo e o Executivo?

As experiências do passado foram terríveis. Em 2023 e 2004, por exemplo, o então presidente da Câmara, Gabriel Azevedo, tinha a intenção de ser prefeito, como foi candidato. Então, para ele, quanto pior a situação do prefeito, melhor era. Ele queria desgastar o prefeito para que ele pudesse sobressair ao caos. Nós não. Nós queremos construir um diálogo com a prefeitura de forma única e independente.

E com as bancadas, partidos e ideologias dentro da própria CMBH?

Fui eleito presidente da Câmara também porque os vereadores já me conhecem e sabem que eu sou uma pessoa do diálogo. Tenho muita facilidade para lidar com as pautas da esquerda e também muita facilidade para lidar com as pautas da direita. O que temos que encontrar aqui na Câmara é o equilíbrio. Eu não posso deixar de ouvir a esquerda com seus projetos e colocá-los para votar, e no plenário, os vereadores decidirem o que é melhor para a cidade. Com a direita, a mesma coisa, porque eu não posso boicotar as pautas deles. Tenho que ter um diálogo com todos. Temos vereadores de esquerda, vereadores da base do governo, vereadores de centro, vereadores independentes… Cada um tem seu perfil e tem que ser respeitado. E eu, como presidente, e a mesa diretora, lembrando que palavra final é sempre do presidente, vamos administrar esses conflitos, mas sempre respeitando a todos.

Temos uma polarização muito grande no País. Como lidar com isso e por onde você acha que passa a pacificação?

Eu penso que a pacificação passa pelo diálogo. Se a gente não ouvir tanto a esquerda quanto a direita, vamos viver em clima de futebol. Esses conflitos hoje acontecem dentro das nossas famílias, na sociedade em geral, mas isso é radicalismo e quem está na ponta, quem precisa do posto de saúde, do ônibus, do médico, da escola é que sofre. Essas pessoas não querem saber se é da esquerda ou da direita, querem que o representante faça o que tem que ser feito. As pessoas estão muito radicais e quero trazer para a Câmara esse equilíbrio. Conversar com todos, mostrar a importância do diálogo, do respeito às pautas e que a população precisa da Casa unida.

Quais seus principais objetivos para os próximos anos?

Primeiro, reconstruir a Câmara Municipal. Terminamos 2024 muito divididos, com grupos de vereadores que nem se falavam. O papel da presidência e da mesa diretora é apaziguar isso e com o equilíbrio das forças, vamos conseguir uma Câmara atuante, com suas comissões temáticas fazendo cada uma o seu papel para cuidar de temas como mobilidade urbana, moradores de rua, Lagoa da Pampulha, Plano Diretor e tantos outros.  Abriremos espaço para que todos esses problemas de Belo Horizonte sejam debatidos. Deixando um pouco as disputas internas de lado para pensar na cidade. Porque quem votou no Joaquim, na Maria, no Sebastião, não quer saber disso. Quer saber se o problema dele, que está vivendo lá na periferia ou lá na Centro-Sul está sendo resolvido.

Esse trabalho de apaziguamento e equilíbrio já começou quando você se candidatou à presidência da Casa?

Sim, na própria formação da mesa diretora e cabe a mim também conduzir isso juntamente com os demais, porque se eu não respeitar as pautas de cada um e não trazer harmonia para Câmara, não vamos andar . E isso não é só aqui, é na Assembleia e no Congresso também.

No regimento interno, há algo que precise ser revisto?

A primeira reunião da mesa diretora está programada o dia 31 de janeiro e vamos chamar o diretor do Legislativo, que é o doutor Federico para debater o regimento. Algumas coisas precisam ser mudadas, principalmente em relação aos vetos. Quando um projeto é vetado, por uma mudança que o ex-presidente fez, ele voltaria, se criaria uma comissão de veto. Hoje não. Esse veto vai para a Comissão de Legislação e Justiça, que torna ela mais forte ainda. Por que não ter uma comissão para debater o veto? Para que o vereador possa falar do veto? Então, temos alguns pontos do regimento que vamos debater com a mesa e com os líderes dos partidos.

Você pretende retomar as discussões acerca de possíveis mudanças do Plano Diretor?

O Plano Diretor tem validade de fato até 2027 e, depois disso, a prefeitura pode começar a criar um fórum de discussão. Esse plano foi aprovado e, na prática, não correspondeu às expectativas. Belo Horizonte perdeu grandes investimentos, por causa do potencial de construção. E hoje, o construtor está investindo em Nova Lima, em Betim, em Sarzedo, em Ibirité, menos em Belo Horizonte, que está deixando de gerar empregos. Creio que o prefeito, já que cabe a ele mandar um novo plano, vai atuar para mudar isso e, então, vamos discutir aqui na Câmara as melhores mudanças.

Qual legado você pretende deixar após deixar presidência da Câmara?

O mandato dura dois anos, então ficarei à frente da Casa em 2025 e 2026. Eu pretendo entregar a Câmara melhor do que eu peguei. Quero entregar uma Câmara unida, respeitando todas as ideologias, tanto da esquerda quanto da direita, e fazendo a diferença na vida de quem está lá na ponta. Quero entregar uma Câmara que tenha contribuído com uma melhoria da cidade. Mas não posso fazer isso sozinho, preciso dos 40 vereadores para que possamos caminhar junto com a prefeitura e melhorar a vida de todos.

Fonte: Diário do Comércio

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