Na trama, protagonista padece de monotonia crônica e parte em busca de ajuda psiquiátrica
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Seria o tédio uma enfermidade, para a qual é preciso tratamento? No caso de Arnaldo, sim. Tomado por uma sensação de absoluto desinteresse por tudo e por todos, a ponto de não suportar nem uma conversa de elevador, ele busca ajuda psiquiátrica para tentar se livrar do sentimento de constante monotonia.
E o que poderia ser uma consulta igualmente entediante transforma-se em uma divertidíssima jornada, em que, por muitas vezes, os papeis de médico e de paciente se confundem. Esse é mote do espetáculo “O Caso”, que chega a Belo Horizonte neste fim de semana, estrelando Otávio Muller e Letícia Isnard.
“O Otávio (Otávio Muller) está padecendo de um tédio crônico”, explica a médica – que, no caso, é interpretada por Letícia Isnard. Mas, afinal, o que estaria por trás de toda essa pasmaceira? A resposta ultrapassa a justificativa de cansaço da rotina.
“De uma maneira mais ampla, o espetáculo atualiza no livro ‘O Mal-estar na Civilização’, do Freud. Nós estamos vivendo em uma curva muito louca do capitalismo, de modo que direcionamos todos os nossos esforços para ter e acumular coisas. E, quando nos damos conta, não sabemos o que fazer com tanta coisa. E isso acaba provocando um vazio existencial, da falta de sentido à vida”, reflete Letícia.
Sendo assim, o espetáculo cai como uma luva nos tempos atuais, em que se vive uma “epidemia de depressão”. “Estamos vivendo sem saber lidar com a própria vida. Isso nos leva a ficarmos perdidos e desestruturados”, pontua a atriz.
Mas Letícia e Otávio não estão exatamente interessados em provocar reflexões indigestas na plateia. “Por meio do humor, a peça traz uma leveza para conseguirmos encarar as mazelas da vida. É surpreendente tratar temas difíceis e complexos por meio do humor, que se transforma em uma arma poderosíssima para conseguirmos falar de coisas delicadas sem diminuir a importância delas”, analisa Letícia.
O texto da montagem, inédita no Brasil, é do francês Jacques Mougenot, autor de “O caso Martin Piche.” Por aqui, a comédia foi rebatizada para simplesmente “O Caso.”
Outra mudança foi na escolha dos atores. A peça foi escrita para ser interpretada por dois homens, mas o diretor do espetáculo, Fernando Philbert, entendeu que seria mais adequado que uma mulher fizesse o papel da médica. “Foi uma mudança muito legal, porque ela traz outra dimensão para as coisas”, aponta.
Letícia e Otávio trabalharam bastante com o texto antes de levá-lo para o palco. Os ensaios, a propósito, ocorreram na sala de estar da casa do ator carioca.
“Foi fabuloso, porque a gente não cortou muito do texto, mas o ajustamos para um humor brasileiro. Os franceses estão mais acostumados com outro tipo de verborragia. No trabalho de mesa, encontramos um ritmo muito mais interessante. Não queríamos que o público ficasse entendiado”, brinca Letícia.
Mas o tédio parece correr longe de quem acompanha a dupla no palco. “Nos surpreendemos muito com a reação do público, porque, de tanto ensaiar uma comédia, acabamos não achando mais graça nenhuma das piadas. Além disso, devido à complexidade do texto, esperávamos uma plateia silenciosa, que, no máximo, sorrisse. Mas quando estreamos no Rio de Janeiro, levamos um susto! A plateia teve uma catarse coletiva de gargalhadas”, relembra.
SERVIÇO
O quê. Espetáculo “O Caso”, com Otávio Muller e Letícia
Quando. Sábado (14), às 20h e domingo (15), às 18h
Onde. Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)
Quanto. Entre R$ 40 (meia-entrada e R$ 80 (inteira) pelo Sympla e na bilheteria do teatro
Fonte: O Tempo