O Copom vai decidir na contramão dos bancos centrais mundiais. o BCE reduziu ontem os juros para 3,5%, com um corte de 0,25 ponto. Foi a segunda redução seguida

Diretores do Banco Central decidem na próxima semana a taxa básica de juros da economia | Foto: Banco Central do Brasil/Divulgação – 31/1/24

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima semana com o mercado financeiro praticamente cravando que elevará a taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,50% ao ano. Isso, mesmo com a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrando deflação em agosto. E mais, essa deflação, que surpreendeu o mercado, foi puxada pela queda dos alimentos e de itens ligados aos serviços, como energia. Com isso, o IPCA no ano está em 2,85% e em 12 meses é de 4,24%. Dentro do teto da meta inflacionária para o ano.

Há pressões inflacionárias no horizonte, mas as mais evidentes estão relacionadas aos efeitos da seca extrema e dos incêndios florestais que atingem o país. Nesses casos não há pressão de demanda, que se combate com medidas para restringir o consumo. Isso significa que os juros podem subir e a inflação também subir, tornando sem efeito a elevação da Selic. Além disso, de acordo com economistas, o aumento dos juros agora só surtirá efeito completo em seis meses, ou seja, será inócuo este ano.

Mesmo com essas pressões no radar, o próprio mercado financeiro projeta taxas de inflação dentro da margem de tolerância da meta inflacionária neste e no próximo ano. Em 2024 e 2025, a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo (1,5%) ou para cima (4,5%). No Focus Relatório de Mercado divulgado esta semana pelo Banco Central, a projeção dos analistas do mercado financeiro para o IPCA este ano é de 4,30% e para 2025, de 3,92%.

Elevando os juros agora o Banco Central pode justificar que busca trazer a inflação para o centro da meta no próximo ano. Ou ainda que está agindo em linha com as expectativas do mercado financeiro. Mas o Copom decidira na contramão dos bancos centrais mundiais. o Banco Central Europeu (BCE) reduziu ontem os juros para 3,5%, com um corte de 0,25 ponto. Foi o segundo recuo seguido. O Federal Reserve (Fed – Banco Central dos EUA) também deve reduzir os juros este mês. Estes dois movimentos, sem alterar a taxa de juros no Brasil, são suficientes para aumentar o fluxo de dólares para o país, com o câmbio aliviando a pressão sobre os preços internos.

Mas se o efeito sobre o consumo tem uma defasagem de tempo, sobre os investimentos e os financiamentos o impacto é imediato. O aumento dos juros encarece o custo do crédito, inibindo o consumo de bens de maior valor, o que desestimula a indústria a investir e afeta o mercado imobiliário, que precisa de crédito para girar os negócios.

E isso no momento em que a indústria puxa o crescimento da economia e a elevação dos investimentos, o que indica aportes para aumentar a produção (leia-se oferta de produtos). Sem combater a inflação de imediato, o aumento dos juros será uma ducha de água fria sobre o setor produtivo e sobre o varejo brasileiros. Na Europa os juros caem para estimular o crescimento econômico, aqui eles vão subir para “conter a inflação”, mas esfriando a economia.

Fonte: Estado de Minas

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