Levantamento do Sebrae mostra que há 2.650 pequenos negócios no estado e 57% das empresas vendem em loja física e online

CO.BRE, cooperativa de brechós no Maletta, reúne diversas marcas em um mesmo espaço
Foto: Fred Magno/O Tempo

Foi-se o tempo em que itens de brechó eram vistos como algo de baixa qualidade ou tinham fama de “roupa de defunto”. A busca por peças exclusivas, que não se encontram nas grandes redes, a preocupação com a sustentabilidade e a economia gerada para o bolso têm feito esse segmento se destacar e gerar renda para empreendedores mineiros. De acordo com levantamento do Sebrae Minas, baseado em dados da Receita Federal, o estado concentra hoje 2.650 pequenos negócios neste segmento. Em Belo Horizonte, são 529 brechós.

“Muitos clientes já se atentaram para o consumo consciente e para a possibilidade de adquirirem roupas de alto padrão, que teriam um valor mais elevado nas lojas convencionais. Esse estímulo para reusar as peças contribui para o fortalecimento dos negócios do setor”, destaca Tábata Moreira, analista do Sebrae Minas.

Além do número de empreendimentos, a pesquisa, feita entre outubro de 2023 e março de 2024, também ouviu cerca de 100 empresários para entender melhor sobre como eles vendem as peças. O estudo mostrou que a maioria, 57%, oferece seus produtos tanto na loja física quanto no ambiente online. 

Thiago Flores, que comanda o Camaleoa Brechó há nove anos, explica que ofertar as roupas nas duas modalidades possibilita que ele conquiste clientes de diferentes perfis. “Quem compra pelo site economiza tempo e tem a comodidade de receber em casa. Alguns não são de BH, então é uma forma de conseguir consumir as peças. Já quem compra presencialmente gosta de testar o caimento e gosta de receber dicas e consultorias”, define. 

Especialista em peças vintage e de alfaiataria, o empreendedor também aponta que seus clientes mantêm uma relação de afeto com as roupas e isso é um dos diferenciais do seu negócio. “Muitos trazem seus acervos pessoais ou de família para vender, mas já recebi doações de clientes, que disponibilizaram as peças sem cobrar nada. Isso porque eles sabem que que vou valorizar esse tipo de roupa e vender para quem também valoriza.”

Apesar do charme indiscutível do vintage, muitos clientes também acessam os brechós para adquirir peças contemporâneas e de marcas conhecidas a preços mais modestos. É esse o nicho explorado pela empresária Daniela Guimarães, dona da loja Muito Mais Que Brechó, na Savassi, na região Centro-Sul. Por ali, roupas de marcas como Animale, Shoulder e Maria Filó têm ticket médio de R$ 150 e custam cerca de 30% do preço original. 

“É o melhor jeito de consumir moda. Você não paga caríssimo em uma peça, correndo o risco de enjoar depois de usá-la algumas vezes, e ainda pode revender depois. A maioria das minhas clientes também são minhas fornecedoras. Elas levam malas de roupas para vender e acabam comprando peças novas”, conta. 

Cooperativa de brechós

Apesar do alto número de empresários que diversificam os canais de venda, alguns optam por começar no digital – por ter um custo mais baixo – e, assim que possível, migram para uma loja física. É o caso da empreendedora Claudia Soares, de 53 anos, que trabalhou quase três décadas como professora e fundou o Escândalo Brechó no formato online antes da pandemia. Em 2022 abriu uma loja no edifício Arcangelo Maletta e, para reduzir os custos, chamou outros dois brechós, Abigail e Chuchu Beleza, para dividir os custos do espaço. Assim nasceu o CO.BRE, uma cooperativa formada por três marcas distintas.

“Além de dividir as contas, também temos a vantagem de dividir a gestão e o atendimento da loja. O trabalho de brechó envolve garimpar as peças em diversos locais, fazer a higienização e algum reparo, caso haja necessidade. Trabalhar em grupo facilita essa logística”, aponta. 

Para ela, ter um espaço físico e sair do virtual é importante, pois há pessoas que só compram quando experimentam a peça no corpo. “Além disso, o Maletta é um espaço muito turístico. Muitas pessoas que não têm brechó em suas cidades acabam se encantando e comprando com a gente. O prédio também tem sebos e lojas de vinis usados, então um brechó conversa com o tipo de pessoa que circula pelo edifício.”

Garimpadora profissional 

Prova de que preconceito com roupa de segunda mão é coisa do passado são os produtores de conteúdo que mostram suas “comprinhas” em bazares e os looks que conseguem montar a partir das peças encontradas. A jornalista Karla Lopes é uma dessas “garimpadoras profissionais” e compra roupas usadas desde que era criança. 

“Geralmente, eu garimpo em bazares de igreja que têm no meu bairro. Acho muito divertido olhar para uma peça usada e pensar em novos usos para ela. É uma possibilidade de exercitar a criatividade e montar um look original, que vai além daqueles que estão expostos nas vitrines e que todo mundo está usando”, reflete.

É claro que a economia no bolso também conta. Em um de seus vídeos, ela mostra um conjunto de pulseiras douradas que conseguiu garimpar em um bazar da igreja São José. Cada peça custou R$ 0,50, preço que dificilmente ela encontraria em uma loja convencional.

“É possível montar um guarda roupa inteiro gastando bem menos. Muitas peças, que não me servem, eu também acabo vendendo e consigo tirar um dinheirinho extra. Também é uma forma de ter verba para continuar comprando nos bazares e produzindo conteúdo”, revela.

Fonte: O Tempo

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