De acordo com levantamento da Fecomércio MG em parceria com o Sindlav BH, número de empresas saltou de 182 para 226 entre 2020 e 2023
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Roupa suja nem sempre se lava em casa. A frase, uma brincadeira com o dito popular, poderia ser o slogan de uma lavanderia localizada em Belo Horizonte – cidade onde o setor tem se expandido nos últimos anos. De acordo com levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), a quantidade de lavanderias na capital mineira cresceu cerca de 25% nos últimos três anos – saltando de 182 para 226 empresas entre 2020 e 2023.
A pesquisa, realizada em conjunto com o Sindicato de Lavanderias e Similares de Belo Horizonte (Sindlav BH), também revelou aumento no número de funcionários – que subiu de 785 para 1053 no mesmo período. Para Gustavo Bregunci, diretor do sindicato, o fortalecimento do setor tem sido puxado principalmente pelas lavanderias “self-service”.
“Há uma tendência forte de expansão das empresas que oferecem um serviço de autoatendimento, onde o próprio cliente pode lavar suas roupas. Hoje, com apartamentos cada vez menores, muitas pessoas não conseguem higienizar as peças em casa. O mercado de lavanderias em BH deve crescer em torno de 30% até 2026”, diz. Um dos exemplos é o condomínio do Edifício JK, na região central, que foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para que houvesse apartamentos menores e lavanderia de uso coletivo.
No Brasil, o Sindicato Intermunicipal de Lavanderias do Estado de São Paulo (Sindilav) estima que existam cerca de 6 mil lavanderias domésticas em operação, gerando 95 mil empregos para o país.
De olho nesse filão, o empresário Marcus Coutinho estudou diversos pontos da cidade e escolheu justamente o Edifício JK para instalar a Beagá Lavanderia Autosserviço em janeiro deste ano. Ele e os sócios, Emerson Cotta e Marlon Bruno, investiram cerca de R$ 300 mil no empreendimento e querem fidelizar os moradores do local – e do entorno – que não têm uma lavadora em casa.
“Já pensamos em abrir mais uma ou duas unidades até o fim do ano. Acabamos conquistando não só um público que já costumava lavar roupa fora, e ansiava por um local mais próximo, como também clientes que experimentaram o serviço pela primeira vez e gostaram do resultado”, aponta Marcus.
O negócio dos sócios segue uma tendência mundial. De acordo com um relatório da Research and Markets, o mercado das lavanderias de autoatendimento vem crescendo no mundo todo e deve atingir a marca de 145,8 bilhões de dólares em 2031.
A lavanderia no JK é totalmente automatizada e conta com sistemas de autopagamento, ar-condicionado e Wi-FI. Caso precise falar com um dos donos, o cliente pode acioná-los via WhatsApp ou até mesmo conversar com eles por meio de uma Alexa – que também pode ser usada para tocar músicas enquanto a roupa é higienizada.
“Assim, conseguimos funcionar sem a contratação de funcionários. Além de reduzir os custos, também é mais cômodo operacionalmente. Colaboradores podem se afastar por algum motivo e comprometer a entrega. Não ter que realizar essa parte de gestão de pessoas também pesa de maneira favorável no negócio”, afirma Coutinho.
“Fazendo dinheiro” enquanto a roupa lava
Morador do Edifício JK há cerca de dois anos, o taxista Marcelo Gonçalves nunca havia lavado roupa fora de casa antes de conhecer os serviços da Beagá. Agora, ele e a esposa, a cabeleireira Claudia Luciana, gastam em média R$ 160 por mês para utilizar os serviços da lavanderia uma vez por semana. Proprietários de uma casa na região Venda Nova, eles alugam uma kitnet no edifício para trabalhar durante a semana e a lavanderia resolveu alguns “perrengues” que o casal enfrentava.
“Como não temos lavadora, por causa do espaço, tínhamos que ir para Venda Nova todo final de semana para lavar roupa. Além de ser menos prático e mais cansativo, era comum chegarmos lá e não ter água. Agora, gastamos bem menos e não passamos raiva”, garante.
Ainda de acordo com a pesquisa, 16% da população de Belo Horizonte utiliza serviços de lavanderia, enquanto 30% dos não usuários admitiram já terem utilizado esses serviços em algum momento de suas vidas. Já o gasto médio mensal é estimado entre R$100 e R$200.
No caso de Marcelo, o “esquema” deu tão certo que o taxista consegue até “fazer uma graninha” enquanto a máquina faz seu trabalho. “Coloco a roupa para lavar e, durante o processo, faço corridas curtas no entorno. Depois volto, coloco as peças na secadora, e vou fazer mais corridas. Cada ciclo dura em torno de 40 minutos. Ter a residência e a lavanderia no mesmo prédio melhorou muito minha rotina”, garante.
Para o consultor financeiro Silvio Azevedo, além da diferença de valores entre lavar roupa em casa ou na rua, o consumidor também deve se atentar a outros pontos para refletir se o serviço compensa. O tempo gasto com o serviço, segundo ele, é um dos fatores importantes desta equação.
“Uma família de quatro pessoas gastaria em média R$ 80 para lavar roupas em casa e R$ 250 com serviço especializado. Já uma pessoa solteira gastaria cerca de R$ 55 para higienizar as peças em casa e R$ 77 fora da residência. Dentro de casa, a pessoa precisa ter a máquina, espaço para secagem, produtos e tempo livre. Já o serviço especializado economiza tempo, esforço e pode aumentar a durabilidade das peças”, analisa.
Escalar serviço ainda é desafio
Apesar do crescimento do setor, os empresários ainda esbarram na limitação física para escalar o serviço e faturar mais. Afinal de contas, diferentemente dos negócios online, o segmento de lavanderias têm atuação limitada e geralmente consegue atender os clientes que moram no entorno ou próximos às lojas. Assim, alguns empreendedores já têm se movimentado para encontrar soluções para este problema.
Atuando no ramo há cerca de 17 anos, o empresário Edison Almeida Jr., proprietário da lavanderia Oficina da Roupa, começou com uma loja na região da Pampulha. Para expandir a clientela, espalhou cinco pontos fixos na cidade onde os clientes poderiam deixar suas roupas e buscá-las limpinhas depois. Até que a pandemia, que chegou no início de 2020, bagunçou toda a operação.
“A crise sanitária mudou nosso negócio completamente. Começamos a fazer delivery, pois os clientes não podiam sair de casa, e depois decidimos desativar de vez a loja da Pampulha e os pontos de coleta. Construímos um galpão com o dobro do tamanho da antiga loja e passamos a operar somente com o delivery. Isso foi positivo, pois agora conseguimos atender toda a cidade e a região metropolitana”, afirma.
Com a expansão dos serviços, veio também o aumento do faturamento. Com cerca de 12 mil peças higienizadas por mês, a empresa faturou R$ 175 mil por mês em 2023 e planeja fechar este ano com faturamento de R$ 200 mil por mês. O número de funcionários também cresceu de 11 para 16.
“Também investimos em diversas outras ações para atrair e fidelizar clientes. Temos nosso plano de assinatura, no qual o cliente vai ganhando descontos progressivos, e também somos fortes na internet. Temos uma equipe que dispara mensagens incentivando a realização dos serviços e nutrindo esse relacionamento. Tem feito muita diferença em nosso negócio”, garante.
Fonte: O Tempo