O Festival de História (fHist) se desenrola até sábado no Palácio das Artes; todas atividades são gratuitas
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Convidados para a edição especial do Festival de História (fHist) que celebra os 150 anos da imigração italiana no Brasil, três chefs e um mestre pizzaiolo italianos desembarcaram em Belo Horizonte trazendo na bagagem, além de grande expectativa e um espírito desbravador, uma colatura di alici, tradicionalíssimo condimento da região costeira de Campânia, no Sul do país peninsular.
A preciosidade, claro, será usada em ao menos uma das receitas apresentadas no evento, que teve início na noite de quinta-feira (28) e se estende até sábado (30), no Palácio das Artes, contemplando uma série de atividades, como homenagens, mesas-redondas temáticas, demonstrações culinárias, workshops de língua italiana e aulas de esgrima histórica italiana. Completam o leque de atrações uma feira gastronômica, uma exposição de arte e uma feira de livros, além de apresentações musicais e teatrais.
“Nós chegamos anteontem (terça-feira) e tivemos uma ótima recepção na cidade. Conhecemos um pouquinho da história de Belo Horizonte, visitamos o Palácio da Liberdade, alguns museus e, desde então, estamos degustando um pouco dos pratos típicos da tradição mineira”, comenta o premiado chef Giuseppe Buschini, 52, que, ao lado dos outros chefs convidados, recebeu O TEMPO na sede do Consulado Geral da Itália em Belo Horizonte, na região da Savassi.
“Aqui (em BH) a gente se sente um pouco na Itália, porque vocês (mineiros) têm um coração quente, são muito receptivos, acolhedores e gentis. Eu lidero cozinhas de navios, em cruzeiros, onde trabalham muitas pessoas, vindas de muitos lugares, incluindo brasileiros, com os quais sempre encontro muita sintonia”, complementa Buschini, celebrando ainda os encontros com italianos que vivem no Brasil há muito tempo, como o chef Massimo Battaglini, que vive na capital mineira desde 1998, e a Cônsul Geral, Nicoletta Gomiero, há dois anos na cidade – os dois também participaram da conversa com a reportagem.
Mas, se a hospitalidade gerou identificação imediata, por outro lado, a gastronomia, nesse primeiro contato, causou sensação de desencontro. “Acho que ainda não deu tempo de perceber as influências porque chegamos há pouco”, opina o mestre pizzaiolo Massimo Buschini, 49. Receita incontornável em uma visita a Minas Gerais, o quarteto obviamente foi apresentado ao pão de queijo. “Achamos uma delícia e penso que até se aproxima um pouco da nossa cultura culinária, mas ainda de uma forma muito distante”, acresce.
As diferenças falaram alto sobretudo no que diz respeito ao preparo, sugere a chef Angela Daniele, 57. “Basicamente, na Itália, temos a dieta mediterrânea, que não é apenas uma dieta, mas um estilo de vida e que é algo que não encontramos paralelo nesses dois dias aqui”, resume, mencionando que o grupo circulou pelo Mercado Central e se impressionou com a qualidade das matérias-primas. “Mas, nas receitas, esses produtos são muito processados, enquanto, na nossa cultura alimentar, os preparos são mais simples, enriquecidos apenas com um toque de azeite de oliva extravirgem”, compara. “Também vimos poucos vegetais, que são muito usados no nosso dia a dia. Além disso, percebemos a presença de muitos alimentos industrializados, enquanto, na Itália, damos preferência para os itens frescos”, situa ela, ressaltando que essa matéria-prima fresca poderia ser melhor explorada na cozinha.
Nicoletta, por sua vez, concorda em parte. “Realmente, além da tradição culinária, há uma tendência para a alimentação saudável na Itália, privilegiando o uso de ingredientes de qualidade e as receitas simples”, aponta. Porém, com a experiência de quem vai se habituando a um outro idioma, ela enxerga pontos de confluência entre as cozinhas dos dois países. “Há quase dois anos em BH, vejo, sim, alguns traços da tradição italiana aqui. Mas ela, obviamente, foi adaptada ao longo do tempo e misturada, o que é bastante interessante, com a tradição camponesa de Minas”, estabelece.
Apresentações
Na oitava edição do fHist “Conexões Ítalo-Brasileiras”, os quatro chefs cumprem o papel de representantes da Itália na Semana da Cozinha Italiana no Mundo, que, realizada anualmente pelo consulado, integra a programação do festival neste ano. “Estamos felizes e emocionados por representar nosso país neste evento. E nos sentimos eletrizados de estar aqui e conhecer tantas matérias-primas e especiarias, que queremos levar para casa para, depois, criar pratos novos”, anima-se Simone Piranda, 28.
Na programação, explica Massimo Battaglini, o quarteto é protagonista de três atividades, a começar pelas aulas realizadas por eles no caminhão gastronômico do Senac, para as quais apenas 18 vagas ficam disponíveis. Além disso, para participar, os interessados precisam chegar com 30 minutos de antecedência. O grupo também apresenta dois showcookings, abertos ao público, no jardim interno do Palácio das Artes. Durante as demonstrações, os comensais podem acompanhar o preparo de variados pratos, disponibilizados posteriormente para degustação.
Embora prefiram fazer mistério sobre as receitas que serão preparadas e oferecidas ao público, os chefs concordaram em dividir com a reportagem ao menos alguns detalhes mais curiosos desses preparos.
“Trouxemos a ‘colatura di alici’ (colatura de anchovas)”, antecipa Massimo Buschini, informando que o condimento é um tipo de molho de peixe italiano de coloração âmbar. O item é tradicionalmente feito na vila de pescadores de Cetara, na Campânia, sendo produzido a partir da fermentação de anchovas salgadas em um terzigni, nome dado a pequenos barris de castanha. “Por regra, o período de maturação do item, na Itália, é de oito meses. Mas, a colatura di alici que trouxemos vem de uma empresa que estende esse prazo para um período maior: no mínimo, quatro anos”, descreve.
Em outra frente, para se aproximar da cultura brasileira, ele revela ter trazido também uma pizza que leva purê de avocado, linguiça e cebola caramelizada. Os outros pratos, bem, só serão descobertos por quem tiver a sorte e o bom senso de participar e se deliciar das atividades do evento, tratado no superlativo por Nicoletta Gomiero, Cônsul Geral da Itália em Belo Horizonte: “É uma celebração importantíssima para nós. E a parte gastronômica, claro, é fundamental nessa história, permitindo que mais pessoas tenham uma ideia da riqueza da cultura italiana e ítalo-descendente, e da italianidade de hoje, que esses chefs estão trazendo para nós”, garante.
SERVIÇO:
O quê. 8º Festival de História (fHist): Conexões Ítalo-Brasileiras
Quando. Nesta sexta (29) e sábado (30), a partir das 10h
Onde. Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. A entrada e as atividades são gratuitas. Programação completa e mais informações no site do Festival de História.
Fonte: O Tempo