Filarmônica realiza apresentações celebrativas nesta quinta e sexta; reportagem fez mapa astral do equipamento
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De uma perspectiva exotérica, isto é, do ponto de vista do que está posto e, sem mistério, já é saber comum, os 10 anos da Sala Minas Gerais, completos em 27 de fevereiro deste ano, representam um marco para a música de concerto no Estado. O espaço, afinal, chega à sua primeira década em atividade como uma das principais salas de concertos da América Latina, referência em acústica sinfônica e abraçada por um público expressivo: em média, o lugar recebe cerca de 100 mil pessoas por ano.
Naturalmente, um aniversário que inspira celebrações e pauta a temporada 2025 da Filarmônica de Minas Gerais, que, após 7 anos dividindo espaço com outros corpos artísticos, atrações e atividades no Palácio das Artes, encontrou na Sala Minas Gerais a sua casa. Um abrigo, aliás, que já era aguardado desde o nascimento da orquestra.
“Quando se começou a falar do desejo de criar, no Estado, uma orquestra de qualidade internacional, houve o entendimento, por parte do governo da época, de que seria preciso ter um espaço de nível acústico a altura desse projeto”, relata Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da Filarmônica desde sua fundação.
Agora, o maestro convida o público a, mais uma vez, se juntar a ele nesta quinta (20) e sexta-feira (21), quando são realizados os concertos que abrem a série especial de apresentações em comemoração aos 10 anos da Sala Minas Gerais. No programa, a Sinfonia n.º 9 em ré menor, op. 125, “Coral” de Beethoven. A regência, claro, é do próprio Fabio Mechetti. Além dele, enriquecendo o evento, as participações especiais da soprano Gabriella Pace, da alto Edineia de Oliveira, do tenor Matheus Pompeu, do baixo-barítono Licio Bruno e do Coro da Osesp, sob a batuta de Thomas Blunt.
‘Nosso principal instrumento’
Para o regente, aliás, mais do que um lugar, a Sala Minas Gerais também merece destacado lugar nos créditos de cada concerto que recebe por representar um instrumento, o mais precioso da Filarmônica. E, de fato, como uma clarineta ou um violino, uma arpa ou um piano, o lugar pode e é constantemente afinado conforme as especificidades das obras que recebe.
“O recurso que mais salta aos olhos é o teto móvel com seus difusores, que podem ser erguidos ou abaixados a fim de tornar o volume sonoro mais ou menos encorpado. Por sua vez, as bandeiras acústicas instaladas como grandes peças verticais na parte superior também ajustam a absorção ou a refração do som. Além disso, há um pequeno espaço atrás da parede do palco que pode ser aberto ou fechado para diminuir a massa sonora”, lê-se no encarte da programação 2025 da Filarmônica, que dedica espaço a curiosidades sobre a “casa” da orquestra.
Outro detalhe, citado no programa, diz respeito à assimetria das paredes curvas próximas ao teto, chamadas “velas”, fato que favorece a equalização dos diferentes comprimentos de onda de cada instrumento, permitindo que o conjunto sonoro emitido pela orquestra chegue ao mesmo tempo aos ouvidos de todos.
Caminhos sinuosos
Antes de ser uma imponente e engenhosa realidade, a Sala Minas Gerais pareceu apenas um sonho distante e insistente, que aparecia no horizonte desde 2008, quando a orquestra iniciou suas atividades – um projeto tão incerto, nos seus primeiros anos, que até chegar ao atual endereço, na rua Tenente Brito Júnior, 1.090, no Barro Preto, conviveu com muita especulação.
Fabio Mechetti lembra, por exemplo, que entre os espaços candidatos a receber o equipamento estavam os prédios onde hoje funcionam o Memorial Minas Gerais Vale e a Casa Fiat de Cultura, ambos no entorno da praça da Liberdade. “Mas todas as opções apresentavam algum problema, alguma limitação em relação ao que desejávamos realizar”, ressalta.
Nos sete anos de espera até que o sonho da Sala fosse concretizado, a orquestra lidou com o desafio de só ocupar o Grande Teatro do Palácio das Artes nos vácuos da movimentada agenda cultural daquele espaço – o que impedia, por exemplo, o lançamento de uma agenda própria ou de um programa de assinatura, que existem atualmente. A espera e a persistência, na avaliação de Mechetti, valeram a pena perante o resultado da empreitada.
“Quando conseguimos o terreno, a primeira coisa que fizemos foi convidar o arquiteto acústico José Augusto Nepomuceno, que talvez esteja entre os profissionais que gozam de mais prestígio neste ramo, não só no Brasil, tendo comprovada experiência em projetos nessa seara, como a construção da Sala São Paulo”, elogia. “Nós mostramos o que queríamos, as dimensões do espaço que tínhamos, o tamanho da orquestra e trouxemos exemplos bem-sucedidos do mundo todo. E o Zé Augusto topou”, complementa, lembrando, ainda, que, depois, se juntaram ao projeto, desenhando a estrutura do prédio em si, a arquiteta Jô Vasconcellos e também arquiteto Rafael Yanni.
Escrito nas estrelas
Do ponto de vista esotérico, isto é, daquilo que está oculto, do que é místico, hermético, a espera também parece fazer sentido – quase como se a data tivesse sido escolhida pelos astros.
Com seu concerto de estreia realizado às 20h30 do dia 27 de fevereiro de 2015, a Sala Minas Gerais tem sol em Peixes e ascendente em Libra, uma combinação que representa “a doação da beleza e da harmonia”, conforme uma plataforma especializada na produção de mapas astrais consultada pela reportagem.
Nesta leitura, que soa auspiciosa – e isso até os mais céticos precisam admitir –, o signo ascendente de Libra se conjuga com Peixes, o signo solar, produzindo “uma personalidade especialmente charmosa, com muita graça, que provavelmente encanta as pessoas com uma atmosfera ao mesmo tempo suave, alegre e elegante”.
“Peixes lhe confere empatia, capacidade de compreensão, e Libra lhe garante uma inteligência social toda especial, um senso de espaço e conveniência muito bom, que lhe faz ser agradável e desejada”. A plataforma astrológica ainda arremata sugerindo uma inclinação para “manifestação de talentos artísticos especiais”, resultado da combinação de signos “muito estéticos, aptos a enxergar a beleza e também a criá-la”.
Fonte: O Tempo